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sábado, 25 de março de 2017

O Pequeno Príncipe: relação entre pensar como “pessoas grandes” e autoridade

Unknown

O Pequeno Príncipe, livro francês escrito por Antoine de Saint-Exupéry e publicado em 1943, conta a história das lembranças de um piloto de avião acerca do Pequeno Príncipe, menino que ele conheceu no deserto do Saara devido à necessidade de um pouso de emergência.

O narrador personagem desenhava quando era criança e o seu primeiro desenho representava uma “jiboia digerindo um elefante”, contudo, as “pessoas grandes” conseguiam distinguir apenas um simples chapéu, que é a interpretação mais comum. Desde o início do livro, este termo é usado para designar os adultos que seguem os padrões da rotina e não exercitam a criatividade.

Em vários momentos o piloto tem consciência de que por mais que ele critique a visão dos adultos em relação à vida, ele faz parte desse grupo; a chegada do Pequeno Príncipe faz com que ele resgate desejos de infância e é por isso que é extremamente doloroso quando o principezinho se refere a ele como “uma pessoa grande”, que não se interessa pelo questionamento sobre “qual é o motivo das rosas terem espinhos?” ou qualquer outro que tenha alguma relação com assuntos abstratos, como natureza ou amor.

Na página 27, há um trecho que demonstra uma crítica em relação às pessoas grandes:

Conheço um planeta onde há um sujeito vermelho, quase roxo. Nunca cheirou uma flor. Nunca olhou uma estrela. Nunca amou ninguém. Nunca fez outra coisa senão contas.

A ideia de contas supõe individualidade, controle e autonomia – ainda que a autonomia nunca seja plena – e em um episódio que aconteceu com O Pequeno Príncipe, quando ele se despediu do seu asteroide e foi conhecer outros, pode-se supor por qual motivo os adultos agem assim.

Ele conheceu um rei no asteroide 325 e frequentemente esse rei lhe dava ordens sobre o que fazer/não fazer e em um momento, esse rei enuncia “a autoridade se baseia na razão” e é por esse motivo que as “pessoas grandes” preferem enxergar chapéus ao invés de jiboias e de fazer contas ao invés de observar uma estrela. Acredita-se que o que faz alguém ser respeitado é se o que essa pessoa diz é certo e se isso pode ser provado. Admitir que existem coisas que são sentimentais, sensoriais ou poéticas, não faz ninguém menos competente e eficiente.

quarta-feira, 22 de março de 2017

Desconstruindo o mito de que poesia não vende

Unknown

Sucessos recentes de Paulo Leminski, Ana Cristina Cesar, Gregório Duvivier e Adriana Calcanhotto desmentem estigma do gênero

Há uma ideia já antiga, realista e ao mesmo tempo estratégica, de que “poesia não vende”. Ainda não está muito claro se isso seria uma vantagem ou uma desvantagem para a poesia. Mas o fato é que os livros de poesia costumam ser recusados por livreiros e, consequentemente, olhados com polida antipatia quando os originais são apresentados às grandes editoras. 

Alega-se desinteresse do público. Segundo uma discussão curiosa, provinda dos jornais, não se sabe se seriam 300 ou 3.000 leitores de literatura contemporânea, hoje, no Brasil. O cálculo, como se imagina, é tão incerto quanto impraticável, uma vez que leitores não compram necessariamente os livros de poesia que leem (há bibliotecas e um número muito grande de edições de autor) e nem leem poesia apenas em livros autorais (há os didáticos, os periódicos, as revistas, as antologias). Leitores de poesia costumam, inclusive, reler seus autores preferidos, prática mais rara em outros gêneros. Por fim, a proliferação de blogs e diversos outros modos virtuais de compartilhamento de textos só veio selar a dificuldade de calcular a relação com esse tipo de texto, cuja tendência ao fragmentário e ao descontínuo vem sendo ressignificada pelas novas tecnologias. 

A ideia do desinteresse em relação à poesia refere-se, portanto, em primeiro plano, não exatamente à leitura, mas à venda de livros (2% do mercado de livros de ficção, segundo estatística de 2012). Mas ainda aí há complicações. Em 2013, a tese da marginalidade mercadológica tornou-se algo insólita, para não dizer cínica, com o best-seller de Paulo Leminski, Toda Poesia, publicado pela Companhia das Letras, que chegou aos 100 mil exemplares vendidos em pouco mais de um ano. Poética, de Ana Cristina Cesar, também não fez feio. Seguiu-se a ela, na mesma editora, outra compilação (de Waly Salomão), no setor de “clássicos” contemporâneos ainda não “resgatados”. A poesia portanto é resgatável, também comercialmente.

Outras editoras, inclusive pequenas, vêm mostrando um interesse já consolidado pela poesia, publicando-a “discretamente”, não raro de modo artesanal. A situação, bem diferente do aberto descaso de que sofria o gênero há décadas atrás, merece portanto atenção do ponto de vista crítico e editorial. 

O caso da Companhia das Letras tem sua especificidade. Ao lado dos poetas ligados ao pop dos anos 1970, a casa vem publicando também sucessos modernistas já bem estabelecidos, como Vinicius de Moraes. A compra dos direitos de publicação de Drummond, em 2012, foi um acontecimento importante na agenda comercial do livro. Embora sua vocação principal continue sendo a prosa de ficção internacional, o lançamento, em 2017, das Poesias Reunidas de Oswald de Andrade e a previsão de lançamento da poesia completa de Hilda Hilst parecem confirmar um novo momento da editora. A clara tentativa de atribuir glamour comercial à poesia, apoiada no aparato da publicidade, tem se mostrado capaz de mobilizar espaços especializados da mídia e a atenção dos festivais.

Com exceções pontuais, como uma coleção de poesia traduzida, nota-se que a editora sempre publicou poesia esparsamente. Com relação à poesia brasileira, a consolidação do catálogo é ainda mais recente e a escolha de autores, relativamente arbitrária. Se a publicação de poesia pode ser vista como uma concessão que se faz a determinados círculos intelectuais, como um verniz de civilidade dentro da lógica de mercado, gerando “sucesso de estima”, não se pode menosprezar a tendência da incorporação ao catálogo de nomes do showbiz, de tudo aquilo que circula bem nas redes e nas colunas sociais. De Gregório Duvivier ou Arnaldo Antunes a Fernanda Torres, isso é perceptível não apenas no caso da poesia. Mas a antologia de poesia brasileira contemporânea organizada por Adriana Calcanhoto, que acaba de sair, é um bom exemplo dessa estratégia que visa associar o livro à ideia de produto.

Não acredito que se possa contestar, como formulação de princípio, o trabalho de dar publicidade a um bom livro. Dar publicidade é o que a crítica literária quer fazer, o que a escola quer fazer, o que queremos fazer na esfera pessoal quando recomendamos um livro. Há um risco real, entretanto, em transformar em critério editorial traços associados à lógica do marketing, ou seja, aquilo que se adequa mais facilmente à previsibilidade do mercado de livros: o gosto do público (entenda-se, do gosto “médio”) ou, pior ainda, o desejo de compra (que opera apenas na esfera da sedução de produto). 

Não há receita para saber o que é boa literatura. Nem as políticas editoriais são tão lineares. Mas há um problema quando a ideia do livro limita-se à opção entre gerar o produto novo e reciclar o produto fora de catálogo. Outras variantes precisariam ser consideradas, como as questões de crítica e de história literárias, os debates em curso sobre os problemas contemporâneos, a natureza da discussão sobre a poesia (não apenas nas resenhas de livros), a situação editorial do conjunto dos livros importantes da poesia brasileira, a relação da edição com o ensino (não apenas com o vestibular), a presença da poesia estrangeira contemporânea na vida literária brasileira, o tipo de leitor que queremos para a literatura. Enfim, a impressão é que a dimensão da situação pública da poesia costuma ser minimizada pelos editores.
*Marcos Siscar é poeta, tradutor e autor de 'Manual de Flutuação para Amadores' (Ed. 7Letras)

Texto originalmente publicado em: http://alias.estadao.com.br/noticias/geral,desconstruindo-o-mito-de-que-poesia-nao-vende,70001685763

quarta-feira, 8 de março de 2017

O desafio de leitura - Ulysses de James Joyce

Unknown

Por ser um romance muito extenso, excepcionalmente uma pessoa encararia Ulysses por simples curiosidade. Ao invés disso, na maior parte dos casos, Ulysses é lido pelo mesmo motivo pelo qual é evitado: pelo desafio da leitura.
 Sua classificação como “obra impenetrável”, primeiramente afasta muitos leitores. Independente de outras características do romance, Ulysses não é lido sem a prevista consideração, por parte do leitor, de que será trabalhoso. Ao mesmo tempo que a dificuldade impede que muitos prossigam a leitura, o desvendamento do romance é o que fascina seus admiradores.
Por ser também complexo, além de extenso, é difícil não se perder nas inúmeras referências, na falta de linearidade, nos focos narrativos e no vocabulário. É a própria estrutura do romance que desafia o leitor.
Joyce não restringe sua imaginação. A linguagem é enigmatica, utiliza formas de linguagem complexas, estrangeirismos, cria palavras, faz trocadilhos, referências literárias e históricas e utiliza diferentes técnicas narrativas como o “fluxo de consciência”.
Para ter sucesso na leitura, é melhor que não exista frustração com a absorção superficial dos conteúdos da obra. O leitor que quer ter da obra compreensão completa e imediata torna a leitura de Ulysses cansativa,  levando consequentemente à desistência.
A obra não foi criada para esse nível de compreensão, pelo menos não em uma primeira leitura. Para muitos, perder um detalhe ou informação significa perder o controle do desenvolvimento da leitura e progressão do enredo. Mas nesse romance, controle é também uma ilusão. As informações só aumentam e torna-se mais difícil guardar todos os detalhes na memória. As referências dadas pela narrativa não se agregam para formar um sentido coletivo e único ao romance. Os fragmentos são independentes uns dos outros, trazendo possibilidades diferentes de leitura, sem que cada detalhe seja essencial para a narrativa que seguirá. Muitas informações se completam ao longo do extenso e complexo romance, de forma que se torna difícil desvendar tudo na primeira leitura e sem guias externos. Nesse caso, guias podem ajudar, mas podem ser inconvenientes ou até desnecessários, uma vez que o leitor por si só pode estudar o romance a sua maneira, interpretação e entendimento. Dessa forma, as informações somariam-se conforme as releituras de Ulysses. Essa é a melhor forma de estabelecer conexões, tornar a leitura pessoal e desvendar o romance, que é afinal a parte recompensadora de se aceitar tal desafio de leitura.
Apesar de toda a dificuldade, Ulysses apresenta características que justificam a admiração de seus leitores. Cada episódio tem algo de único e desafiador, além de muitas vezes cômico. Bons exemplos são os monólogo de Stephen e de Molly nos episódios Proteu e Penélope, respectivamente, a ironia contra o jornalismo em Éolo, os trocadilhos com comidas em Lestrigões, as referências externas a Shakespeare e Hamlet em Cila e Caríbdis, o contraste do coloquial e do cientificismo em Ciclope, as paródias literárias em Gado ao Sol.
Não há dúvida de que a leitura é distinta de qualquer outra. Terminar a leitura pela primeira vez é certamente uma realização. Não pelo orgulho de tê-lo lido, mas pelo poder de saber que se trata mais do que um simples romance e tirar as próprias conclusões sobre ele. Como diz Ítalo Calvino, em Por que ler os clássicos: “ler os clássicos é melhor do que não ler os clássicos”. Pois essa é a única forma de saber o que os tornam exemplar.

Ulysses de James Joyce sempre será enigmático, mas revelador para aqueles que se dispuserem a querer desvendá-lo. A primeira leitura do romance não deve ser muito penosa àqueles que não se prendem aos detalhes para compor o geral da obra e tem a paciência e empenho de entrar progressivamente, através das releituras, no mundo que Joyce criou. 

terça-feira, 7 de março de 2017

Unknown

O tecido vital que é o vestibular
gradualmente corrompido por
17 vírus de ebola que
nevam entre
bancos vermelhos
e  coquetéis molotov

Copos plásticos inundados
por olhos moles de estetoscópios
e esquadros efervescentes
contam-se
martelos e sonhos
mas nenhuma
métrica

Glândulas estéreis refratam homens
de tungstênio
 futuros azulados
tetos e tosses
cuspem  tex
tu
ri
za
ções

Desistências longas
partem de cidades desejadas
enquanto sorrisos brancos de gabarito
anunciam  hélices de estiramentos

crédito foto: http://noticiasconcursos.com.br/nao-tenho-dinheiro-para-pagar-cursinho-e-agora-saiba-como-estudar-sozinho/


domingo, 5 de março de 2017

Cuidado com o revisor

Unknown

Uma crônica do grande Luis Fernando Veríssimo sobre a importância da revisão! E o melhor, com seu tradicional toque humorístico! ;) Não deixem de ler!
Todo escritor convive com um terror permanente: o do erro de revisão. O revisor é a pessoa mais importante na vida de quem escreveEle tem o poder de vida ou de morte profissional sobre o autor. A inclusão ou omissão de uma letra ou vírgula no que sai impresso pode decidir se o autor vai ser entendido ou não, admirado ou ridicularizado, consagrado ou processado. Todo texto tem, na verdade, dois autores: quem o escreveu e quem o revisou. Toda vez que manda um texto para ser publicado, o autor se coloca nas mãos do revisor, esperando que seu parceiro não falhe. Não há escritor que não empregue palavras como, por exemplo: “ônus” ou “carvalho” e depois fique metaforicamente de malas feitas, pronto para fugir do país se as palavras não saírem impressas como no original, por um lapso do revisor. Ou por sabotagem.
Sim, porque a paranoia autoral não tem limites. Muitos autores acreditam firmemente que existe uma conspiração de revisores contra eles. Quando os revisores não deixam passar erros de composição (hoje em dia, de digitação), fazem pior: não corrigem os erros ortográficos e gramaticais do próprio autor, deixando-o entregue às consequências dos seus próprios pecados de concordância, das suas crases indevidas e pronomes fora do lugar. O que é uma ignomínia. Ou será ignomia? Enfim, não se faz.
Pode-se imaginar o que uma conspiração organizada, internacional, de revisores significaria para a nossa civilização. Os revisores só não dominam o mundo porque ainda não se deram conta do poder que têm. Eles desestabilizariam qualquer regime com acentos indevidos e pontuações maliciosas, além de decretos oficiais ininteligíveis. Grandes jornais seriam levados à falência por difamações involuntárias, exércitos inteiros seriam imobilizados por manuais de instrução militar sutilmente alterados, gerações de estudantes seriam desencaminhadas por cartilhas ambíguas e fórmulas de química incompletas. E os efeitos de uma revisão subversiva na instrução médica são terríveis demais para contemplar.
Existe um exemplo histórico do que a revisão desatenta – ou mal-intencionada – pode fazer. Uma das edições da Versão Autorizada da Bíblia publicada na Inglaterra por iniciativa do rei James I, no século XVII, ficou conhecida como a “Bíblia Má”, porque a injunção “Não cometerás adultério” saiu, por um erro de impressão, sem o “não”. Ninguém sabe se o volume de adultérios entre os cristãos de fala inglesa aumentou em decorrência dessa inesperada sanção bíblica até descobrirem o erro, ou se o impressor e o revisor foram atirados numa fogueira juntos, mas o fato prova que nem a palavra de Deus está livre do poder dos revisores.
A mesma bíblia do rei James serve como um alerta (ou como o incentivo, dependendo de como se entender a história) para a possibilidade que o revisor tem de interferir no texto. O objetivo de James I era fazer uma versão definitiva da Bíblia em inglês, com aprovação real, para substituir todas as outras traduções da época, principalmente as que mostravam uma certa simpatia republicana nas entrelinhas (como a Bíblia de Genebra, feita por calvinistas e adotada pelos puritanos ingleses, e que é a única Bíblia da História em que Adão e Eva vestem calções. Para isso, James reuniu um time dividido entre os que cuidariam do Velho e do Novo Testamento, das partes proféticas e das partes poéticas, etc. Especula-se que as traduções dos trechos poéticos teriam sido distribuídas entre os poetas praticantes da época, para revisarem e, se fosse o caso, melhorarem, desde que não traíssem o original. Entre os poetas em atividade na Inglaterra de James I estava William Shakespeare. O que explicaria o fato de o nome de Shakespeare aparecer no Salmo 46 – “shake” é a 46ª palavra do salmo a contar do começo, “speare” a 46ª a contar do fim. Na tarefa de revisor, e incerto sobre a sua permanência na História como sonetista ou dramaturgo, Shakespeare teria inserido seu nome clandestina e disfarçadamente numa obra que sem dúvida sobreviveria aos séculos. (Infelizmente, diz Anthony Burgess, em cujo livro A mouthful of air a encontrei, há pouca probabilidade de esta história ser verdadeira. De qualquer maneira, vale para ilustrar a tentação que todo revisor deve sentir de deixar sua marca, como grafite, na criação alheia.)
Não posso me queixar dos revisores. Fora a vontade de reuni-los em algum lugar, fechar a porta e dizer “Vamos resolver de uma vez por todas a questão da colocação das vírgulas, mesmo que haja mortos”acho que me têm tratado bem. Até me protegem. Costumo atirar os pronomes numa frase e deixá-los ficar onde caíram, certo de que o revisor os colocará no lugar adequado. Sempre deixo a crase ao arbítrio deles, que a usem se acharem que devem. E jamais uso a palavra “medra”, para livrá-los da tentação.
VIP Exame, mar. 1995, p. 36-37. © by Luis Fernando Verissimo

sexta-feira, 3 de março de 2017

Leia (mais) mulheres – 12 autoras mulheres para ler em 2017

Unknown


Não é novidade para ninguém que o movimento feminista tem ganhado força no Brasil – e no mundo –, e também não é novidade que, com isso, surgiu um grande questionamento sobre o papel da mulher na sociedade. Tendo isso em mente, mulheres de todo o país passaram a se questionar sobre a falta de escritoras femininas nas suas listas de leitura. Não que haja poucas escritoras mulheres, o que acontece é que elas recebem pouca atenção da mídia e isso faz com que, consequentemente, nós, leitores, acabemos lendo menos mulheres do que deveríamos.
Assim, para que em 2017 nós possamos dar o devido valor à literatura feminina, aqui vai uma lista de doze autoras para que, neste ano, nós leiamos cada vez mais mulheres.

   1.     Alice Walker
Alice Walker, negra e filha de agricultores, conseguiu diversas bolsas de estudo ao longo dos anos, graduando-se em Artes pela Sarah Lawrence College em 1965. Ativista pelos direitos dos negros e das mulheres, Alice escreveu De amor e desespero, obra composta por vozes de diversas mulheres negras dos Estados Unidos. Vencedora do prêmio Pulitzer de ficção em 1983 por A cor púrpura, o livro deu origem ao filme homônimo dirigido por Steven Spielberg, o qual conta a estória de Celie, abusada física e psicologicamente desde a infância. A obra se mostra muito atual até hoje por retratar a dureza de uma realidade de pobreza e opressão étnica, social e de gênero.
Dicas literárias: O templo dos meus familiares, Rompendo o silêncio e A cor púrpura.

   2.     Alison Bechdel
Cartunista norte-americana, Alison começou a chamar atenção da crítica quando lançou Dykes to watch out for, série de tirinhas que tratava de relacionamentos lésbicos, produzida ao longo de 25 anos, entre 1983 e 2008. O maior reconhecimento, no entanto, veio em 2005, quando a autora publicou Fun Home, obra autobiográfica em quadrinhos, que fala da complicada relação entre Alison e seu pai. Apontada pela revista Time como melhor livro do ano, a obra se tornou a única HQ a receber esse título e, em 2007, recebeu o Eisner Award, prêmio importantíssimo no universo dos quadrinhos. Mais tarde, o livro ganhou uma adaptação musical na Brodway, recebendo cinco Tony Awards. Alison também é famosa pela criação do Teste de Bechdel, o qual avalia os estereótipos femininos no cinema.
Dicas literárias: Fun Home – uma tragicomédia em família e Você é minha mãe? Um drama em quadrinhos.

   3.     Babi Dewet
Carioca, Bárbara “Babi” Dewet começou sua história como amante da literatura muito cedo, aos três anos, depois de ler Rei Arthur e os Cavaleiros da Távola Redonda. Fã de Harry Potter e Beatles, Babi conheceu, aos dezoito anos, a banda McFly, algo que mudou completamente sua vida. Ela passou a escrever fanfics (estórias escritas por fãs) interativas sobre a banda, dentre elas a trilogia Sábado à noite, que, de tão famosa entre os fãs da banda, virou livro, em 2010, publicado de forma independente, o qual vendeu mil cópias em menos de um ano. Mais tarde, a trilogia foi publicada pela editora Generale e desde então Babi tem vivido da literatura.
Dicas literárias: Sábado à noite, Sonata em punk rock e Um ano inesquecível.

   4.     Carola Saavedra
Carola é uma escritora nascida no Chile, mas veio ao Brasil com a família ainda muito nova. Formada em jornalismo pela PUC Rio, concluiu o mestrado em Comunicação Social na Alemanha. A autora tem livros traduzidos para o inglês, francês, alemão e espanhol, é vencedora do prêmio de melhor romance pela Associação Paulista dos Críticos de Arte, com o livro Flores azuis (Companhia das Letras, 2008), e finalista do prêmio Jabuti com o mesmo romance e com Paisagem com dromedário (Companhia das Letras, 2010).
Dicas literárias: Toda terça, Flores azuis, Paisagem com dromedário e O inventário das coisas ausentes.

   5.     Carolina Maria de Jesus
Carolina foi uma escritora brasileira, nascida em Sacramento, Minas Gerais, que alcançou fama ao ter seu diário publicado, em 1960, sob o nome Quarto de despejo – diário de uma favelada. Negra e semianalfabeta – cursou apenas até o segundo ano do primário –, Carolina correu o mundo, tendo seu livro traduzido em treze idiomas. Engana-se, no entanto, quem acredita que Quarto de despejo seja apenas uma descrição fidedigna do dia a dia na favela, pois o livro é, sobretudo, a prova de que a favela é muito mais do que reprodutora de cultura, ela é, antes, produtora e porta-voz da sua própria cultura.
Dicas literárias: Quarto de despejo, Pedaços da fome e Onde estaes felicidade?

   6.     Chimamanda Ngozi Adichie
Nascida na Nigéria, Chimamanda deixou o país aos dezenove anos e foi rumo aos Estados Unidos, onde se tornou mestra em escrita criativa pela Universidade Johns Hopkins e mestra em estudos africanos pela Universidade Yale. Em 2009, Adichie falou sobre o perigo das histórias únicas no TED e, em 2012, ela realizou uma palestra intitulada Todos nós deveríamos ser feministas no TEDxEuston. Mais tarde, esse discurso foi incorporado na música Flawless, da Beyoncé e, com isso, a autora ganhou ainda mais visibilidade. Em 2014, essa mesma palestra foi publicada em forma de livro, sob o título Sejamos todos feministas.
Dicas literárias: Sejamos todos feministas, Hibisco roxo e Americanah.

  7.     Eliane Brum
Formada em jornalismo pela PUC do Rio Grande do Sul, Eliane trabalhou dez anos como repórter do jornal Zero Hora e onze anos como repórter especial da Revista Época. Em 2010, passou a atuar como freelancer e, desde 2013, escreve para o jornal El País. Seus artigos possuem linguagem acessível e são sempre muito bem escritos, o que já lhe rendeu mais de quarenta prêmios nacionais e internacionais. É autora de um romance, intitulado Uma duas, um livro de crônicas, A menina quebrada, o qual reúne diversas de suas colunas escritas pra Revista Época e de livros de reportagem, dentre eles A vida que ninguém vê, vencedor do prêmio Jabuti de Reportagem, em 2007.
Dicas literárias: Coluna Prestes – o avesso da lenda, Uma duas, O olho da rua e A vida que ninguém vê.

   8.     Harper Lee
Nella Harper Lee foi uma escritora norte-americana, nascida em 1926, vencedora do prêmio Pulitzer de ficção, em 1961, pelo livro O sol é para todos. Após sua publicação, em 1960, Harper Lee nunca mais lançou nenhum livro, até que fosse descoberto, em uma caixa, o livro Vá, coloque um vigia, publicado em 2015. Em 2007, a autora foi premiada com a Medalha Presidencial da Liberdade dos Estados Unidos por suas contribuições à literatura. E, em 19 de fevereiro 2016, ela faleceu de causas naturais, aos 89 anos.
Dicas literárias: O sol é para todos e Vá, coloque um vigia.

   9.     Hilda Hilst
Considerada como uma das melhores escritoras em língua portuguesa do século XX, Hilda Hilst, natural de Jaú, entrou para a Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, em 1948, onde conheceu Lygia Fagundes Telles, que se tornaria sua grande amiga. Em 1964, cansada da vida agitada de São Paula, Hilda se muda para a fazenda da mãe, próxima a Campinas, onde permanece até o fim da construção da Casa do Sol, local planejado cuidadosamente por ela para ser um espaço de inspiração e criação artística. Lá, ela hospedou diversos artistas ao longo dos anos, como Caio Fernando Abreu e, depois de sua morte, o Instituto Hilda Hilst passou a manter o espaço, mantendo a tradição de receber artistas dispostos à criação artística. Autora de diversos livros, Hilda recebeu o prêmio de melhor livro do ano, por seu livro Ficções, pela Associação Paulista de Críticos de Arte. Em 1984, a autora recebeu o prêmio Jabuti por seu livro Cantares de perda e predileção, além de outros diversos prêmios.
Dicas literárias: A obscena senhora D, Fluxo-floema, Tu não te moves de ti e Bufólicas.

  10. Lady Sybylla
Geógrafa, professora, mestra em Paleontologia e blogueira no Momentum Saga, Sybylla é fã de ficção científica há anos. Feminista, ela se preocupa com a diversidade e a representatividade nesse gênero. Junto à Aline Valek, organizou uma coletânea de contos intitulada de Universo Desconstruído, que leva seu conto Codinome Electra. Mais tarde, ela organizou a segunda edição dessa coletânea, na qual publicou o conto BSS Mariana. Escritora independente, ela disponibiliza o download gratuito dos contos em seu blog.
Dicas literárias: Diga meu nome e eu viverei, Missão Infinity, Mais um dia glorioso em Tau Citi! e Codinome Electra.

  11. Marjane Satrapi
Escritora e ilustradora, nascida no Irã, Marjane vem de uma família profundamente envolvida com o movimento de esquerda no Irã. Aos 14 anos, em 1983, foi mandada, por seus pais, para Áustria, como forma de fugir do regime iraniano, que repreendia cada vez mais a liberdade civil dos cidadãos. Nos anos 2000 ela lançou a série autobiográfica Persépolis, graphic novel traduzida em diversas línguas, na qual conta sobre seus anos de ensino médio em Viena, onde morou em diversos lugares até, por fim, encontrar-se desabrigada. Devido às difíceis condições de vida, Marjane contraiu pneumonia, o que a fez retornar ao Irã. Lá, ela conheceu um homem com quem se casou aos 21 anos e, depois, divorciou-se. Tornou-se metra em Comunicação Social pela Universidade Islâmica Azad e, atualmente, mora em Paris. Em 2007, Persépolis foi adaptada para o cinema. Aclamado pela crítica, o filme foi indicado, em 2008, ao Oscar de Melhor Filme Animado.
Dicas literárias: Persépolis, Bordados e Frango com ameixas.

  12. Paulina Chiziane
Nascida em Moçambique, nos subúrbios da cidade de Maputo, Paulina foi membra da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), participando ativamente do cenário político do país. Entretanto, a escritora abandonou a militância para se dedicar à literatura por estar desiludida com as diretivas políticas da Frelimo. Em 1990, publicou Balada de amor ao vento, que lhe rendeu o título de primeira mulher moçambicana a publicar um romance e, em 2003, recebeu o prêmio José Caveirinha pela obra Niketche: uma história de poligamia.

Dicas literárias: O alegre canto do perdiz, Ventos do Apocalipse, Niketche: uma história de poligamia e Balada de amor ao vento.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

Clássico do ciclo do romance nordestino, 'A Bagaceira' ganha nova edição

Unknown




Nova capa de "A bagaceira", lançado pela editora José Olympio
Em nova edição, com capa renovada, a José Olympio relança A bagaceira, de José Américo Almeida. Considerado o marco inicial da segunda fase do Modernismo brasileiro e obra inaugural do ciclo do “romance nordestino” dos anos 1930, o livro traz glossário composto pelo próprio autor e Ivan Cavalcanti Proença e introdução de M. Cavalcanti Proença.


A trama se passa entre 1898 e 1915, dois períodos de grandes secas nordestinas. O enredo central gira em torno do triângulo amoroso entre Soledade, Lúcio e Dagoberto. Soledade, menina sertaneja, retirante da seca, chega ao engenho de Dagoberto, pai de Lúcio, acompanhada de vários retirantes: Valentim, seu pai, Pirunga, seu irmão de criação, e outros que fugiam da seca. Lúcio e Soledade acabam se apaixonando. Mas a relação entre os dois ganha ares dramáticos quando Dagoberto violenta Soledade e faz dela sua amante.
A tragédia de amor serve ao autor, político paraibano, puramente como pretexto para denunciar os problemas sociais econômicos do Nordeste, os dramas dos retirantes das secas e da exploração do homem em um injusto sistema social. Explorando os mesmos temas, o baiano Jorge Amado, a cearense Rachel de Queiroz, o alagoano Graciliano Ramos e o também paraibano José Lins do Rego desenvolveram a mesma literatura ficcional crítica e revolucionária.
O livro chega às livrarias em fevereiro.
Abaixo, o texto da orelha da nova edição de A bagaceira:
Em depoimento a João Condé – para os famosos “Arquivos implacáveis”, publicados na revista O Cruzeiro – José Américo de Almeida afirmou não escrever cartas por não ter jeito para o estilo epistolar, mantendo apenas correspondência telegráfica. No romance ele igualmente é telegráfico, pontilhista, recortado, pouco propenso a andamentos narrativos mais fluidos e livres. Sua índole não era bem a do contador de histórias. Antes defendia ideais. E estava com 38 anos quando escreveu A bagaceira, por volta de 1925. A primeira edição é de 1928, pela Imprensa Oficial da Paraíba, que tirou a segunda nesse mesmo ano. Também no mesmo ano, a Livraria Castilho, do Rio de Janeiro, realizou mais duas edições, incluindo então o famoso glossário preparado pelo autor e mais tarde ampliado por Ivan Cavalcanti Proença. Foram quatro edições no ano da estréia, e dezenas de outras nas décadas seguintes.
Este romance de sucesso, como é sabido, prenunciou o chamado romance de 30 no que ele tem de mais característico, isto é, o apego ao regional e o registro de um mundo em decadência (o da sociedade patriarcal), com a “luta de classes” na berlinda dos novos tempos. Representativo, como apontou agudamente Wilson Martins, mais pela “moral estética” que impôs do que propriamente pela influência. Mas é de se indagar, com Martins, se os romances de José Lins do Rego seriam os mesmos sem a presença deste livro fundador de José Américo de Almeida.
Poeta da prosa, e poeta de índole romântica, seu lirismo cintilante e seu – talvez para o leitor de hoje – desconcertante estilo adjetival guardam um pouco do emaranhado telúrico de Os sertões. Não por acaso, Temístocles Linhares afirmou que Euclides da Cunha, se fosse romancista, teria subscrito A bagaceira. A natureza indomável, que por vezes José Américo recorta numa moldura dantesca, sinaliza o parentesco: “Procurava uma impressão que lhe pacificasse o espírito e a selva bruta dava-lhe a idéia de um conflito. Árvores deitadas sobre árvores. Deformidade de corpos humanos. Plantas corcundas com as copas no chão. Cipós enforcando troncos veneráveis.”
Eis porque A bagaceira pouco ou nada tem de modernista, seja pela linguagem, seja pela temática. Apesar disso, sua matéria – a “bagaceira” humana dos engenhos, o sertão, o jagunço, o retirante, a seca, o triângulo amoroso de implicações freudianas –, junto a certos aspectos pitorescos como o da assimilação da gíria nordestina, parece ter criado mais que os conhecidos elementos deflagradores do romance brasileiro pós-1930. Porque em Rachel de Queiroz e Jorge Amado, em José Lins do Rego e Amando Fontes, e até em Lúcio Cardoso e Guimarães Rosa, são muitos os traços cuja origem pode estar neste drama sertanejo, com sua música e cor local. A observação de Guimarães Rosa não deixa dúvidas: “José Américo de Almeida – que abriu para todos nós o caminho do moderno romance brasileiro.” (André Seffrin)

Publicação original: http://www.jb.com.br/cultura/noticias/2017/02/08/classico-do-ciclo-do-romance-nordestino-a-bagaceira-ganha-nova-edicao/


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